Geração Fotovoltaica Distribuída: crescimento vertiginoso ou apenas maturação inicial?

por Rodolfo Castro

O Brasil já experimenta há 7 anos o uso da geração distribuída (GD) conectada à rede em seu território. Muito se diz a respeito do forte crescimento nos últimos anos, em especial 2018 e agora em 2019. De fato, se observamos a curva de difusão dos sistemas, podemos notar um formato exponencial, com taxas de crescimento na casa dos 3 dígitos percentuais. A Figura 1 apresenta a evolução da capacidade instalada ano a ano em todo o país. Na Figura 2 nota-se a quantidade de sistemas instalados no mesmo período. O propósito desse artigo, no entanto, é mostrar os dados de outra forma, dar um outro olhar sobre esse mercado, a fim de evidenciar o grande potencial que a fonte ainda tem a explorar.

Figura 1 – Evolução da capacidade instalada de Geração Distribuída no Brasil.
Figura 2 – Evolução da quantidade instalada de Geração Distribuída no Brasil.

O Brasil conta atualmente com cerca de 84 milhões de unidades consumidoras de energia elétrica, saindo em 2012 da casa dos 70 milhões, ou seja, houve um acréscimo de 14 milhões de novas unidades. Os consumidores que se beneficiam da GD representam uma pequena fração desse número, sendo equivalente a 1,2% das novas ligações, enquanto ao se comparar com o total de unidades consumidoras (UCs), cai para 0,19%. Importante destacar que a inserção varia entre as diversas localidades do país. Enquanto o estado de Minas Gerais já possui mais de 27 mil sistemas, abastecendo cerca de 48 mil unidades consumidoras e totalizando 280 MW instalados, Roraima possui apenas 40 sistemas, segundo a ANEEL, não somando ainda nem 1 MW.

Não queremos aqui analisar os fatores que levam a essa discrepância, mas apontar os potenciais de evolução. Pode-se pensar, vendo os números de MG, que o estado caminha para uma saturação do mercado, chegando a um estágio onde não há mais espaço para novas empresas ou novos investimentos. Para ver isso, a Greener levantou o nível de inserção dos sistemas fotovoltaicos de geração distribuída para diversas concessionárias do Brasil utilizando dados disponibilizados na página da Aneel. A Figura 3 apresenta a curva de inserção da geração distribuída fotovoltaica (GDFV)[1] por distribuidora. Nele podemos notar quais já estão com um mercado proporcionalmente mais maduro.

Figura 3 – Inserção da GDFV por concessionária em %.

Apenas uma concessionária dentre as analisadas possui inserção acima de 1%. A CEMIG, por outro lado, apesar de possuir maior potência instalada, apresenta pouco mais de 0,4% de inserção devido ao seu extenso mercado consumidor. ENEL SP, penúltima colocada na lista, apresenta 0,02%. Levando em conta que se trata da maior concentração de consumidores e renda do país, a região metropolitana de São Paulo consiste em um mercado quase nada explorado, tendo grandes potenciais de crescimento. Analisando a distribuição da difusão pelas concessionárias, vemos que dentre as 96 analisadas, 85 encontram-se com difusão abaixo de 0,5%.

Apesar das diferentes formas de regulamentar a geração distribuída e seus incentivos, quando existentes, é importante compreender como esse modelo se desenvolveu em outros países. A Austrália, por exemplo, possuía em fim de 2018 mais de 8 GW de capacidade acumulada de GDFV, totalizando 2 milhões de sistemas[1]. Dado que a população do país é da ordem de 25 milhões – 1/8 da brasileira – e contém cerca de 11 milhões de consumidores de eletricidade[2], sua taxa de inserção já atinge quase 20% das UCs no país.

Esse cenário indica que a GD ainda está em seu estágio inicial de maturação. Como mostrado em Estudos prévios, parte das empresas do setor ainda aguarda maior volume de vendas afim de garantir rentabilidade na atividade empresarial. Muitas integradoras de sistemas solares possuem baixa taxa de lucro, ou até mesmo negativa, apostando em uma melhora futura desse mercado e ganho de escala para viabilizar os negócios. Claro que, independente das potenciais alterações regulatórias que podem impactar o setor, é esperado que as taxas de crescimento reduzam a níveis bem abaixo dos 3 dígitos percentuais. Mas isso é uma consequência justamente do estágio inicial do setor. Se uma empresa instalou 1 sistema durante 2018 e 3 durante 2019, ela cresceu 200%. Nem por isso podemos afirmar que a empresa se tornou uma gigante do setor.

Ao fim do mês de outubro a Greener irá lançar a edição do Estudo Estratégico: Mercado Fotovoltaico de Geração Distribuída – 3º Trimestre de 2019 no qual serão fornecidas mais informações a respeito do atual estado da GDFV no país, evidenciando o grande potencial que a fonte ainda possui


[1]A GDFV corresponde à quase totalidade do número de sistemas.
[2]http://apvi.org.au/wp-content/uploads/2019/08/NSR-Guidelines-2019_AUSTRALIA_AU.pdf
[3]https://www.bitre.gov.au/publications/2015/files/BITRE_yearbook_2015_full_report.pdf

  Autor : Rodolfo Castro

Consultor Greener e Mestre em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Universidade Estadual de  Campinas


fonte: Estudo produzido e propagado pela Greener / + detalhes aqui