Metas ambientais movimentam energias renováveis no Brasil

Com um enorme potencial ainda a ser explorado, o Brasil deve passar nos próximos anos por um processo de transformação de sua matriz energética, impulsionado pelos compromissos assumidos no Acordo de Paris sobre o Clima.

O ambicioso tratado assinado no fim de 2015 obriga os países signatários a manterem o aumento da temperatura média do planeta “bem abaixo” de 2ºC em relação aos níveis pré-industriais. Além disso, o Brasil promete reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em 43% até 2030, na comparação com os patamares de 2005.

A maior nação da América Latina também iniciou o processo de adesão à Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), fundada em 2009 e que conta com mais de 150 Estados-membros, e à Aliança Solar Internacional (ASI), que pretende mobilizar US$ 1 trilhão até 2030 para os países situados nos trópicos.

“O Brasil terá de usar mais energia de fontes alternativas, porque as fontes a partir de combustíveis fósseis tendem a diminuir. Ainda vai demorar, mas o mundo caminha para desativar as usinas nucleares e de carvão”, diz Manuel Fernandes, sócio de auditoria da consultoria KPMG e especialista em energia e recursos naturais.

Ele lembra que o Brasil já possui uma “vantagem competitiva”, uma vez que mais de 80% de sua matriz energética é renovável, em função sobretudo dos recursos hídricos, mas também passa por “momentos de aperto” em épocas de seca e precisa buscar fontes alternativas.

“Com os compromissos de descarbonização e da COP21, as fontes renováveis tendem a crescer”, acrescenta. A promessa de um futuro auspicioso para o setor no Brasil atrai o interesse de empresas estrangeiras, que fazem investimentos pesados em parques solares e eólicos, como a italiana Enel.

Além de ser a nova dona da Eletropaulo, a companhia opera a maior planta solar do país, em Nova Olinda (PI), e possui parques eólicos e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), outro nicho importante para garantir uma matriz energética limpa e renovável.

“As empresas estrangeiras estão trazendo tecnologias ao Brasil para ajudar em smart grid [redes inteligentes], robotização, automatização. O Brasil é um país atraente para esse setor, e os players lá fora estão interessados”, ressalta Fernandes.

Ele destaca ainda que o setor passa pelo chamado “4D”: digitalização, democratização, descarbonização e descentralização. Já para José Roberto Soares, professor de sistemas de comunicação e redes da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a energia eólica tem aproveitado toda a estrutura montada no Nordeste. “É uma região favorável para instalar essas usinas”, afirma.

No entanto, ele salienta que os parques de energia solar poderiam ser mais bem explorados, uma vez que geram mais empregos na construção das usinas, são silenciosos e feitos com painéis que duram mais de 25 anos.

Outras fontes já solidificadas no Brasil são a biomassa, que “sempre foi forte”, segundo Soares, e o gás natural, que não é renovável, porém é mais limpo que combustíveis fósseis líquidos e sólidos.

fonte: Isto É