Pesquisa aponta interesse por energia solar e expansão do setor no Brasil

Uso de dispositivos como painéis fotovoltaicos para fornecer eletricidade está em expansão no Brasil - JOÃO MATTOS/ARQUIVO/JC
Uso de dispositivos como painéis fotovoltaicos para fornecer eletricidade está em expansão no Brasil – JOÃO MATTOS/ARQUIVO/JC

por Jefferson Klein

A micro e minigeração de energia (formada por pequenos geradores, como residências e comércios, que utilizam aparelhos como painéis fotovoltaicos para gerar eletricidade) está ficando cada vez mais conhecida no Brasil. Uma prova disso foi demonstrada em pesquisa realizada pelo Datafolha, encomendada pelo Greenpeace, que atestou a vontade da maioria das pessoas em adquirir equipamentos para produzir eletricidade.

O levantamento apontou que 80% da população já sabe da possibilidade de gerar sua própria energia. Além disso, 72% disseram que fariam a aquisição do sistema de autogeração se houvesse linhas de crédito com juros baixos, e 50% estariam dispostos a usar os FGTS (alternativa ainda não disponível) para esse fim. Para 48% dos entrevistados, economizar na conta de luz é a principal motivação para gerar eletricidade. A segunda justificativa mais citada, com 17%, foi a possibilidade de se tornar independente das distribuidoras de energia.

O estudo teve abrangência nacional, incluindo regiões metropolitanas e cidades do interior de diferentes portes. Ao todo, foram envolvidos 178 municípios e feitas 2.044 entrevistas. O presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, diz que o resultado do trabalho surpreendeu positivamente.

O dirigente reforça que a análise demonstra o enorme potencial de mercado da autogeração de energia, que, por sua vez, é constituído por 98,9% de projetos fotovoltaicos (ainda podem ser enquadrados nesse modelo as fontes eólica, hídrica, biomassa e cogeração qualificada). O segmento que mais faz uso dessa prática é o residencial.
Sauaia enfatiza que o percentual de 72% que afirmou que compraria uma solução de autogeração corresponde a aproximadamente 140 milhões de pessoas, o que quase equivale às populações somadas de Argentina, Colômbia, Venezuela e Peru. O integrante da Absolar atribui às notícias veiculadas na mídia e ao fato do setor solar ter sustentado seu crescimento em meio à crise da economia o melhor conhecimento sobre o assunto. Outra particularidade para a qual Sauaia chama a atenção é que, inicialmente, o interesse do público pela energia fotovoltaica era devido ao apelo ecológico, agora é devido à questão financeira.

Também é possível perceber o desenvolvimento desse campo de negócios pelo número crescente de companhias que atuam com painéis solares. O proprietário da Solistec Soluções em Energia Solar, Sérgio Santos Pereira, abriu a empresa no ano passado, depois que houve o amadurecimento da legislação sobre o setor. O empresário confirma que o mercado de energia solar vem progredindo exponencialmente no País. Um dos motivos é que o segmento está “recuperando o atraso”, já que a tecnologia e a regulamentação da atividade demoraram a ser implementadas no Brasil.

Pereira salienta que a legislação foi constituída somente em 2012 (com a Resolução Normativa nº 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel) e, depois disso, as normas ainda foram aprimoradas. O empresário diz que um fator que ainda afasta o consumidor é o tempo de retorno do investimento feito em painéis fotovoltaicos (cerca de seis anos).

O proprietário da Solistec acredita que o ideal seria um prazo de 3 anos e meio. Ele argumenta que a tendência é que esse cenário seja possível, com a redução dos preços dos sistemas fotovoltaicos, o que deve se tornar uma realidade com ações como, por exemplo, a instalação de fabricantes de equipamentos no Brasil.

Opções de financiamento para aquisição de equipamentos começam a surgir no País

Blue Sol criou consórcio em 2016, destacou Luís Otávio Colaferro BLUE SOL-ENERGIA SOLAR/DIVULGAÇÃO/JC
Blue Sol criou consórcio em 2016, destacou Luís Otávio Colaferro – BLUE SOL-ENERGIA SOLAR/DIVULGAÇÃO/JC

Um dos obstáculos que precisam ser superados dentro do setor de energia solar é a pouca oferta de financiamentos para a aquisição de sistemas fotovoltaicos, admite o presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia. No entanto, aos poucos, esse cenário começa a mudar. O dirigente recorda que o Banco do Nordeste e o Bndes possuem opções nesse sentido, mas apenas para pessoas jurídicas.

Essa é uma questão fundamental, pois a pesquisa, encomendada pelo Greenpeace, frisa a preocupação do consumidor quanto à viabilidade econômica para comprar os sistemas. O estudo destaca que 54% dos entrevistados acham que somente os ricos podem ter a tecnologia, e 59% alegaram que a casa própria é um requisito para usufruir do benefício.

Sauaia lembra que, no mês passado, o governo federal, através do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, informou que os beneficiários do Minha Casa Minha Vida poderiam utilizar o FGTS para instalar energia solar em residências do programa. Contudo, até o momento, não se teve um retorno prático dessa medida. O presidente da Absolar cita também que há projetos de lei tramitando no Congresso nacional para estender essa possibilidade além dos limites do Minha Casa Minha Vida.

Assim como a disponibilidade de bancos financiarem os empreendimentos, Sauaia sustenta que as empresas precisam ser criativas e encontrar soluções como consórcios ou aluguel para vender seus produtos. A Blue Sol Energia Solar é uma das companhias que atuam na área e criou, em 2016, o Consórcio de Energia Solar. A ferramenta funciona exatamente como um consórcio automotivo ou de imóvel, com o investimento mensal de recursos através de parcelas sem juros. Os sistemas comercializados são oferecidos em sete tamanhos e valores diferentes, podendo o consumidor escolher aquele que se encaixe ao seu consumo elétrico mensal. Todo mês, um cotista é agraciado através de lance e um por sorteio.

Conforme o sócio e diretor de treinamentos e marketing digital da Blue Sol Energia Solar, Luís Otávio Colaferro, o segredo para financiar a instalação de um sistema fotovoltaico é conciliar o máximo possível as parcelas do empréstimo com a economia mensal que a geração própria de energia proporciona. O executivo explica que o custo de uma solução fotovoltaica depende do tamanho da demanda que precisa ser atendida. Mas, normalmente, uma família de classe média, com cinco pessoas, precisaria desembolsar entre R$ 32 mil a R$ 39 mil para satisfazer o seu consumo.

Colaferro argumenta que o primeiro passo para a difusão de uma tecnologia é a conscientização (o que está ocorrendo) e o segundo é acessibilidade aos recursos. “E, gradativamente, mecanismos estão surgindo nesse sentido”, ressalta. O diretor acrescenta que, com o passar do tempo e o aumento de escala, os produtos devem ficar mais baratos, como aconteceu com os telefones celulares.

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