Expectativas para a GD segundo o PDE 2029

Análises a respeito das expectativas para o setor de geração distribuída fotovoltaica no Brasil no médio e longo prazo.

    O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2029, lançado recentemente, é um documento elaborado pela EPE com o objetivo de “indicar as perspectivas da expansão do setor de energia no horizonte de dez anos, dentro de uma visão integrada para os diversos energéticos”. No documento de quase 400 páginas, um capítulo é dedicado a tratar da expansão de Recursos Energéticos Distribuídos (RED) – que envolvem a geração distribuída e armazenamento atrás do medidor – e potenciais ganhos de Eficiência Energética. Este artigo se baseia nos resultados apresentados neste documento. Pretendemos, aqui, analisar os volumes de mercado projetados pela EPE, a fim de mapear os rumos que a GD fotovoltaica pode tomar. Destaca-se que, como afirmado pela própria EPE na NT DEA 016/2019, a projeção possui limitações na análise de curto prazo, devendo ser considerada apenas para efeitos de médio e longo prazo. Caso o leitor tenha interesse, pode acessar o Estudo Estratégico da Greener, publicado ao fim do 4º Trimestre de 2019, onde avaliamos, segundo nossos modelos, a difusão da GDFV no Brasil conforme a proposta feita pela ANEEL à época.

O PDE 2029 adota como cenário base a entrada em vigor de uma nova forma de compensação da energia na GD a partir de 2021, com a perda das componentes Fio A, Fio B e TUSD Encargos para a geração local. Para a geração remota retira-se também a componente TUSD Perdas. A partir de 2022, entraria em vigor uma tarifa binômia, com o fim da cobrança volumétrica das componentes Fio A e Fio B. 

Em seu cenário base, a EPE prevê a instalação acumulada de cerca de 10 GW de geração solar até o fim de 2029. A partir de 2021 há um predomínio das instalações residenciais com o encolhimento da geração remota. Apesar do volume instalado em 2018 e 2019 ter superado a expectativa do PDE 2027, a mais nova projeção reduz o volume de mercado esperado para o fim da década. Nesse novo cenário, dado que o setor atingiu 1,9 GW de capacidade ao fim de 2019, seria instalado cerca de 0,8 GW ao ano, em média, até o fim de 2029. Em 2019, porém, o mercado comercializou 1,3 GW de sistemas fotovoltaicos, o que demonstra uma grande probabilidade de, já em 2020,a potência instalada no brasil ultrapassar as estimativas da EPE e se  realizada a projeção do PDE, o mercado anual reduziria em torno de 40% do que foi o último ano. A Figura 1 apresenta a projeção de referência do PDE 2029 evidenciando a participação de todas as fontes que compõem a geração distribuída.

A EPE também apresentou os resultados de cenários alternativos de difusão da GD. Com isso, é possível entender quais os possíveis caminhos que mais impactam esse mercado. A Figura 2 apresenta dois gráficos da evolução da capacidade instalada para cada cenário proposto pela ANEEL. O gráfico da esquerda corresponde à difusão para os cenários onde não há entrada da tarifação binômia. No mais otimista dos casos, a Alternativa 0 de compensação de energia, a capacidade instalada superaria os 30 GW em 2029 com cerca de 3 GW de comercialização anual. Esse volume permitiria um crescimento vertiginoso da GD durante a década. O gráfico da direita corresponde à difusão para os cenários onde, além da mudança da forma de compensação em 2021, haveria também, em 2022, a entrada da tarifa binômia. No cenário mais pessimista, Alternativa 5 – B, a capacidade instalada chegaria a 9 GW, com mercado em torno de 700 MW por ano.

Nota-se que a implantação de uma tarifa binômia nos moldes do que foi calculado pela EPE reduz a expectativa de inserção da GD em quase 60%, quando comparado à expectativa mais otimista de manutenção da regra atual. Esse impacto é semelhante ao da adoção da Alternativa 3, já considerada fortemente prejudicial pelo setor.

Para sintetizar, a Tabela 1 apresenta a redução percentual do mercado estimado até 2029, bem como um cálculo do mercado anual médio para cada um dos cenários. A primeira linha corresponde ao cenário sem alterações, que evidencia o potencial que há no mercado brasileiro. As linhas seguintes são apresentadas em ordem crescente de impacto. Apenas dois cenários, além da Alternativa 0, são capazes de garantir que o mercado de GD mantenha volumes de comercialização em níveis iguais ou superiores ao de 2019.

É importante ressaltar que o volume anual de mercado se refere a valores médios durante a década de 2020. Os primeiros 5 anos seriam, possivelmente, mais afetados que os últimos 5, levando um tempo para que o mercado se recomponha e até mesmo ultrapasse a marca de 2019.

Assim, observa-se que, enquanto a década anterior foi de criação e maturação inicial da GD no Brasil, a década atual será importante para solidificar e definir o tamanho que esse mercado terá. Apesar do aprendizado e fortes ganhos de eficiência adquiridos nos primeiros 8 anos de REN 482, os desafios para esse setor não se encerram e os integradores e os players deste setor ainda devem passar por períodos de incertezas elevadas em função das mudanças regulatórias em discussão.

Para ter mais informações a respeito do mercado fotovoltaico de micro e minigeração distribuída no Brasil, acesse gratuitamente o Estudo Estratégico Mercado Fotovoltaico de Geração Distribuída do 4º Trimestre de 2019 no site da Greener.

fonte: Greener