Sol, a fonte de energia de (quase) todas as energias

Radiação solar emerge como força motriz central para diversificação do panorama energético, escreve Marcelo Gauto

A busca por fontes de energia sustentáveis tem se tornado uma prioridade global diante dos desafios ambientais e da necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Nesse contexto, a luz radiante do sol emerge como uma força motriz central que permeia quase todas as fontes de energia que dispomos hoje, desempenhando um papel fundamental na diversificação do panorama energético.

Solar, eólica e hidro

Partindo da mais óbvia, a energia solar fotovoltaica se destaca como uma fonte diretamente derivada da radiação solar. Os painéis solares se aproveitam dos fótons derivados da radiação solar para produzir eletricidade, proporcionando uma fonte de energia renovável que tem ganhado destaque nos últimos anos. A expansão exponencial da capacidade de geração solar fotovoltaica tem contribuído significativamente para a redução da dependência de fontes não renováveis no mundo.

O calor solar também desempenha um papel crucial em processos indiretos de geração de energia. A energia eólica, por exemplo, é gerada pela movimentação do ar, impulsionada, em grande parte, pelo aquecimento diferencial da atmosfera pela radiação solar. Portanto, a energia dos ventos é, de certa forma, uma manifestação da energia solar, evidenciando a interconexão das fontes energéticas.

Além disso, a energia hidrelétrica, que historicamente tem sido uma das principais fontes de eletricidade em muitos países, especialmente no Brasil, também está ligada ao sol. O ciclo da água, alimentado principalmente pela energia solar, é o motor por trás da geração hidrelétrica. As águas evaporam, formam nuvens e, por meio da gravidade, fluem para gerar eletricidade em represas e cursos d’água, demonstrando como a energia solar está intrinsecamente conectada também a essa forma de energia renovável.

A fotossíntese

A biomassa é outra fonte que encontra suas raízes na energia solar. A fotossíntese é o processo pelo qual as plantas, algas e algumas bactérias convertem a luz solar em energia química, transformando dióxido de carbono (CO2) e água (H2O) em glicose (C6H12O6) e oxigênio (O2). Esse processo é vital para a produção de alimentos e para a manutenção do equilíbrio atmosférico de oxigênio e dióxido de carbono.

A fotossíntese é uma grande ferramenta natural de captura de carbono da atmosfera, sendo parte do ciclo do carbono dos biocombustíveis. O carbono emitido na queima de um biocombustível foi anteriormente capturado da atmosfera na fase de crescimento da biomassa que o deu origem, de modo que a emissão líquida de carbono na atmosfera é zero. Os biocombustíveis são em última análise frutos da energia solar.

O sol e os combustíveis fósseis

Embora a relação direta entre o sol e os combustíveis fósseis possa não ser imediatamente evidente, a interligação ocorre ao considerarmos os processos geológicos e biológicos que levaram à formação dos combustíveis fósseis ao longo de milhões de anos.

Os combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural, têm sua origem em materiais orgânicos provenientes de restos de plantas e organismos marinhos, especialmente plâncton, que viveram em épocas remotas. O ciclo de formação desses combustíveis começa com a captura de energia solar por meio da fotossíntese realizada por plantas e fitoplâncton. Ao crescerem, eles armazenam energia solar em forma de carbono em seus tecidos.

Quando da sua morte, os restos orgânicos acumulam-se em áreas sedimentares, como pântanos e leitos marinhos. Ao longo de milhões de anos, a pressão e o calor causados pela sobreposição de grandes camadas sedimentares transformam esses restos orgânicos em conglomerados de carbono, dando origem aos combustíveis fósseis, como carvão, óleo e gás.

Portanto, a interconexão entre o sol e os combustíveis fósseis reside no fato de que a energia solar capturada pelos seres vivos durante a fotossíntese é armazenada nesses materiais orgânicos, que permaneceram soterrados ao longo de um período bastante longo, em condições muito específicas. O calor e a pressão do solo, associados a processos geológicos, transformam esse carbono armazenado em combustíveis, representando, assim, uma forma indireta de energia solar armazenada ao longo do tempo.

De forma simplória, pode-se dizer que os combustíveis fósseis representam a fotossíntese realizada em um passado bem distante, datados muitas vezes da era jurássica. Por isso, muitas vezes, há a correlação de petróleo com dinossauros. A conexão destes pontos se dá apenas pela questão temporal, não pelo fato de o petróleo ter derivado dos dinos propriamente dito.

Vale destacar que a extração e queima de combustíveis fósseis para obtenção de energia liberam para atmosfera o carbono armazenado há milhões de anos, na forma de CO2, contribuindo para o efeito estufa e o aquecimento global. A transição para fontes de energia renováveis torna-se crucial para reduzir essas emissões, mantendo o aquecimento do planeta sob certo controle.

O sol e o Net Zero

Em síntese, a influência do sol se estende por quase todas as formas de energia que utilizamos hoje, seja de maneira direta, como na energia solar fotovoltaica, ou de maneira indireta, como nos processos naturais que alimentam a energia eólica, hidrelétrica e de biomassa e, ainda, nos hidrocarbonetos derivados de fotossíntese de longa data, como petróleo, gás e derivados. Reconhecer e aproveitar dessa interconexão e suas sinergias é crucial para promover um futuro energético sustentável e justo, sob o ponto de vista ambiental, social e econômico.

Que o astro rei siga nos iluminando e energizando, rumo a um futuro de emissões líquidas de carbono zero, rumo ao Net Zero. A caminhada é longa, mas estamos trilhando-a à luz do sol.

fonte: epbr